domingo, 13 de setembro de 2009

É o meu Rio Grande do Sul, terra e cor!

Na véspera de adentrarmos a Semana Farroupilha, para os gaúchos natos, uma semana e tanto, refletindo e transplantando nos gaúchos do século XXI o que foi história, hoje a cultura.

Em diversos projetos realizados em escolas em diversas semanas farroupilhas, ao perguntar às crianças o que é a Semana Farroupilha para eles, várias vezes fui respondido.. É quando a gente almoça no CTG, toma mate na aula, quando o pai e a mãe vão em baile, quando a gente se veste “assim”.

Será mesmo, que para os gaúchos não tradicionalistas é isto mesmo?

A Semana Farroupilha, é um misto de história, amor e devoção ao nosso Rio Grande, vai além dos ‘adjetivos’ citados acima pelas crianças.

É quando celebramos a bravura de um povo guerreiro, com personalidade própria que há anos passados lutaram por idéias, ideais e desejos do povo. Um estado certamente e absolutamente distinto do resto do Brasil. Sim, aqui cultuamos uma tradição, por amor ao pago em que vivemos, seja nas Danças Tradicionais, nos Concursos de Prendas e Peões, nas Atividades Campeiras ou em Concursos Literários a respeito do Rio Grande.

20 de setembro de 1835 começava o mais longo Conflito Armado da história do Brasil, para nós Gaúchos, um motivo de orgulho... Começava então a Revolução Farroupilha! Homens bravos, altivos defenderam uma razão, muitos idéias e incontáveis idéias.

Mas então, a revolução começou em 20 de setembro, e a guerra somente acabou em 1º de março de 1845... Afinal, porque comemoramos uma semana antes do dia 20 de setembro a tal semana farroupilha? Seguinte, um pouco de história... Vivia-se 1947, os veículos de comunicação mostravam-se saturados de estrangeirismos, com isso em Porto Alegre em agosto de 1947 iniciou um movimento no Colégio Estadual Júlio de Castilhos que primava por preservar, desenvolver e proporcionar uma revitalização à cultura rio-grandense, interligando a nossa História. Esse movimento era comandado por um grupo de jovens estudantes da escola que ali fundaram o Departamento de Tradições Gaúchas da Escola. Como eles procuravam a revitalização da identidade do povo gaúcho, no dia 05 de setembro do mesmo ano, saíram as ruas da Capital, a cavalo e pilchados.

Dentre os itens programados pelo Departamento da Escola, um havia recebido uma atenção especial: a Ronda Gaúcha, logo popularizada e consagrada pela gauchada, definitivamente como a “Ronda Crioula”. Assim, desenvolveu-se uma intensa atividade de 07 a 20 de Setembro. Pois foi retirada uma centelha da Chama da Pátria, dando origem a Chama Crioula que se estendeu até o dia 20 de setembro.

Paixão Côrtes relata: “Era quase meia noite do dia sete de setembro. Na avenida João Pessoa festivamente iluminada, ardia a Pira. Uma multidão ansiosa esperava ansiosa os atos de encerramento de mais uma Semana da Pátria. Eu, Cyro Ferreira e Fernando Vieira, estes embandeirados pelos símbolos do Rio Grande do Sul e do Colégio Júlio de Castilhos, aguardávamos montados em nossos ‘pingos’ as ordens da comissão central, que dirigia a solenidade de apagamento do fogo simbólico. Pouco antes do Fogo da Pátria ser extinto, veio o comunicado para assomar-me à Pira, subindo uma frágil escada de madeira. Num gesto solene meu, estava acessa a Chama Crioula.”

Somente em 11 de dezembro de 1964, através de uma lei, o Presidente da assembléia Estadual, Francisco Solano Borges, sancionava a lei que oficializava a semana Farroupilha no Rio Grande do Sul – a ser comemorada de 14 a 20 de setembro de cada ano, em homenagem à memória do Herói farroupilha.

Assim então, a origem do que começamos a comemorar amanha.

Abaixo, uma demonstração de respeito de um Paulista, Arnaldo Jabor, pelo Rio Grande em uma de suas crônicas.

O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos.

Olham o escândalo na televisão eexclamam 'que horror'.


Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'. Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.

Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisãoe dizem 'que baixaria'. Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'. Do ressentimento passivo à participação ativa'.


Pois recentemente estive em Porto Alegre,onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo detodos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.


Abriram com o Hino Nacional.


Todos em pé, cantando. Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.


Fiquei curioso. Como seria o hino?


Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '.


Em seguida um casal, sentado do meu lado,prepara um chimarrão.


Com garrafa de água quente e tudo.

E oferece aos que estão em volta.

Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem.
Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.


Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.


Aliás, você sabia que São Paulo tem hino?
Pois é...Foi então que me deu um estalo.


Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em participação ativa?


De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o debocheque tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.


Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidadede mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.



São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.


E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.



Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'.
A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira.
Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.



Que venham, pois. Com orgulhome juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:
'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'

Arnaldo Jabor